O que são varizes?
As varizes consistem em veias dilatadas, alongadas e tortuosas acarretando perda da função básica. O nome varizes deriva do grego e significa “semelhante a uvas”. São mais comuns nos membros inferiores, porém podem acometer veias em todo o corpo. Neste blog vamos nos limitar a falar mais das varizes em membros inferiores.
O que fazem as veias?
O sistema venoso é responsável, em linhas gerais, por funcionar como um reservatório para armazenar o sangue e como um conduto para o retorno sanguíneo ao coração. Além disso, as veias possuem papel na regulação da temperatura corporal As veias dos membro inferiores dividem-se em profundas e superficiais e se conectam por uma série de veia perfurantes ao longo da perna e da coxa.
É comum ter varizes?
As doenças venosas afetam milhões de pessoas no mundo todo, constituindo a sétima patologia crônica mais frequente na espécie humana, com grande demanda para os serviços de saúde em virtude problemas estéticos, limitações de atividades e sofrimento que impõem aos pacientes, assim como pela ocorrência de complicações.
Para se ter uma ideia, na Itália, houve uma perda de 1,1 milhões de dias de trabalho anualmente em decorrência da doença varicosa e suas complicações, enquanto que, nos Estados Unidos, esse número chegou a 5,9 milhões mostrando o grande impaco que a doença tem na economia de um país.
No Brasil, a prevalência das varizes chega a 47,6%, com presença de lesões (úlceras de estase) em 3,6% da população. Em pesquisa no Ministério da Saúde, houveram 72.852 internações relacionadas ao tratamento de varizes de membros inferiores, com gasto de R$ 42.781.251, 89 no ano de 2017.
Aspecto histórico breve
A primeira ilustração que se tem conhecimento de veias varicosas foi encontrada na Grécia, em Atenas, no quarto século a.C., sendo dedicada ao Doutor Amynos, talvez um dos primeiros flebologistas. Há relatos antigos de construção de réplicas de membros inferiores com varizes, oferecendo-as nos templos de Esculápio para conseguir alívio dos sintomas.
Figura 1 – Oferenda para Asclepius, em mármore, agradecendo a cura das varizes. 350 a.C. Museu Nacional, Atenas.
Em 1543, a anatomia do sistema venoso foi apresentada detalhadamente por Andreas Vesalius e as proposições de tratamento cirúrgico já foram descritas por Jeronimus Fabricius (1533-1619), no seu trabalho De Venarum ostius e Opera chirurgica, através de múltiplas ligaduras e drenagem do sangue das veias sendo a discussão retomada no fim do século XIX com a introdução das técnicas de assepsia e a descoberta da anestesia.
O que sinto quando tenho varizes?
São sintomas mais comuns das varizes a dor, fadiga e sensação de peso nos membros inferiores e, menos frequentemente, os pacientes referem sintomas de ardor, prurido, formigamento , calor, edema e cãibras.
As varizes produzem um quadro doloroso e a dor é o sintoma mais frequente no paciente que apresenta varizes. O fato curioso é que a dor não acompanha o grau de dilatação das veias superficiais e não devemos subestimar jamais a dor da paciente…
A dor referida pelas pacientes pode assumir características diferentes sendo do tipo queimação, latejante e, outras vezes, do tipo picada. Algumas vezes a definem como um peso ou dor cansada, esta provavelmente relacionada com o edema resultante do quadro das varizes. É mais intensa ao final do dia e se intensifica após longos períodos sentados ou em pé e, nas mulheres, durante o período pré menstrual e gestacional.
O alívio se dá pelo simples ato de caminhar e pelo repouso com os membros elevados, embora não seja imediato. Não costuma responder bem ao uso de analgésicos comuns e possui caráter difuso sendo as áreas mais afetadas os tornozelos e as panturrilhas, pois são áreas sob maior pressão venosa.
Há algum problema se eu retirar a minha safena com varizes?
Existem muitas possibilidades no tratamento cirúrgico das varizes na atualidade. O tratamento deve ser individualizado baseando-se nos achados clínicos, ultrassonográficos e na demanda de cada paciente na consulta. A veia safena faz parte do sistema venoso superficial.
Fato é que, entre 80 a 90% da circulação venosa dos MMII faz-se pelas veias profundas e apenas 10 a 20% pelas veias superficiais, sendo a velocidade circulatória no sistema profundo 10 vezes maior do que no superficial. Portanto, na prática, não há grande prejuízo a circulação venosa devido a importância do sistema venoso profundo na circulação das pernas.
Por fim…
Cada paciente carrega em si uma história e tem uma percepção particular da doença. Por isso, a escuta de cada paciente deve ser individualizada e o tratamento direcionado para a demanda da consulta seja do ponto de vista puramente físico ou anatômico, mas também psicológico e estético. Devemos levar em conta também a doença como instrumento de fuga ou compensação para outro problema.
E um último lembrete: as varizes de membros inferiores não representam sério risco de vida e os pacientes portadores da doença convivem anos com a mesma. Portanto, fique tranquila, mas na se esqueça: embora não seja uma doença grave, as varizes promovem uma perda na qualidade de vida importante dos pacientes acometidos. Por isso, procure a (o) Cirurgiã (o) Vascular de sua confiança e cuide da saúde das suas pernas.
*Referências:
1) Brito, José Carlos de. Cirurgia Vascular: Cirurgia Endovascular e Angiologia. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 4ª. Edição, 2020.